quarta-feira, agosto 09, 2006

Palavras Sábias


Discurso do Ministro Brasileiro de Educação nos EUA.

Este discurso merece ser lido, afinal não é todos os dias que um Brasileiro dá um "baile" educadíssimo aos Americanos...
Durante um debate numa universidade nos Estados Unidos o actual Ministro da Educação CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro.

Esta foi a resposta do Sr. Cristovam Buarque:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso".Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,i nternacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro...O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser Internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!"


Como diria o Fernando Pessa: E esta, hein?...

terça-feira, agosto 08, 2006

Lisboa dos Mil (des)Encantos


Ontem foi a torreira total.
Todos os termómetros de rua por onde passei marcavam 35 graus ou mais... A cidade debatia-se sob um manto pesado de calor, poluição, suor, comentários tipo "ai credo" e coisas assim. No Jardim das Amoreiras, não fossem as árvores, parecia que estávamos em terra alentejana, tal era a quantidade de cigarras que gritavam odes ao calor seco e abafado. O bafo era tal, que das linhas do horizonte erguia-se uma névoa cinzenta, o smog da nossa aflição!
A cidade não se queixa, claro. As pessoas queixam-se o mais possível, claro. A cidade permanece ainda mais impávida do que é habitual no pico do nosso delicioso Verão português. Sim, porque nesta altura do ano Lisboa respira de alívio com a ausência dos seus frequentadores habituais. Abençoadas férias laborais!
E depois temos manhãs como a de hoje.
A névoa instala-se durante a noite e pela manhã brinda-nos com um fedor que só é possível aqui. A grande Lisboa parece que se peidou. Um daqueles peidos silenciosos, mas de "aroma" inconfundível. E como fedia, pá! Estava eu a apanhar roupa da corda e a suster a respiração. O Tejo contribui com todos os dejectos que é possível ter à superfície quando a maré está baixa. No geral, fiquei com a sensação que a cidade está podre como um pêssego deixado ao Sol.
Mas a cidade não se queixa, claro. E as pessoas queixam-se o mais possível, claro.
Ainda assim, adoro Lisboa! E adoro o Verão! E adoro as esplanadas e o Rato sem trânsito e passear de chinelos e os turistas à guerra com mapas e as peles bronzeadas e os jardins cheios de velhos e crianças à procura da sombra e as cervejas a escorregar por um punhado de cêntimos e as debandadas para perto do mar e as cores e os saldos e as saladas de polvo e o Bairro Alto ao anoitecer e piqueniques no Jardim da Estrela e frisbee no Parque Eduaro VII e, acima de tudo, os amigos e as paródias!
O Verão português é absurdamente fixe! Lisboa é absurdamente fixe! Mesmo quando sofre de flatulência logo pela manhã, é só dar-lhe algumas horas para ela brilhar outra vez!
Que cidade, c'um camandro!