terça-feira, agosto 08, 2006

Lisboa dos Mil (des)Encantos


Ontem foi a torreira total.
Todos os termómetros de rua por onde passei marcavam 35 graus ou mais... A cidade debatia-se sob um manto pesado de calor, poluição, suor, comentários tipo "ai credo" e coisas assim. No Jardim das Amoreiras, não fossem as árvores, parecia que estávamos em terra alentejana, tal era a quantidade de cigarras que gritavam odes ao calor seco e abafado. O bafo era tal, que das linhas do horizonte erguia-se uma névoa cinzenta, o smog da nossa aflição!
A cidade não se queixa, claro. As pessoas queixam-se o mais possível, claro. A cidade permanece ainda mais impávida do que é habitual no pico do nosso delicioso Verão português. Sim, porque nesta altura do ano Lisboa respira de alívio com a ausência dos seus frequentadores habituais. Abençoadas férias laborais!
E depois temos manhãs como a de hoje.
A névoa instala-se durante a noite e pela manhã brinda-nos com um fedor que só é possível aqui. A grande Lisboa parece que se peidou. Um daqueles peidos silenciosos, mas de "aroma" inconfundível. E como fedia, pá! Estava eu a apanhar roupa da corda e a suster a respiração. O Tejo contribui com todos os dejectos que é possível ter à superfície quando a maré está baixa. No geral, fiquei com a sensação que a cidade está podre como um pêssego deixado ao Sol.
Mas a cidade não se queixa, claro. E as pessoas queixam-se o mais possível, claro.
Ainda assim, adoro Lisboa! E adoro o Verão! E adoro as esplanadas e o Rato sem trânsito e passear de chinelos e os turistas à guerra com mapas e as peles bronzeadas e os jardins cheios de velhos e crianças à procura da sombra e as cervejas a escorregar por um punhado de cêntimos e as debandadas para perto do mar e as cores e os saldos e as saladas de polvo e o Bairro Alto ao anoitecer e piqueniques no Jardim da Estrela e frisbee no Parque Eduaro VII e, acima de tudo, os amigos e as paródias!
O Verão português é absurdamente fixe! Lisboa é absurdamente fixe! Mesmo quando sofre de flatulência logo pela manhã, é só dar-lhe algumas horas para ela brilhar outra vez!
Que cidade, c'um camandro!

1 comentário:

Sandrinha disse...

Sim!
E eu pensei que era só na minha zona que cheirava mal... Mas não! Lisboa intera cheira a... Couves!